A previsão era de que a estação do metrô da Gávea , que faz parte da Linha 4, estivesse funcionando a pleno vapor na Olimpíada de 2016. No entanto, as obras foram paralisadas um ano antes, e, em 2018, a área escavada acabou sendo inundada com 36 milhões de litros de água para evitar abalos estruturais em prédios do entorno. Agora, o buraco será aterrado . A medida, antecipada por Ancelmo Gois em sua coluna no GLOBO, foi justificada nesta quinta-feira pelo governador Wilson Witzel . Ele afirmou que o estado não tem recursos para retomar a intervenção e disse ter outras prioridades, como reurbanizar a Favela da Rocinha.
– O dinheiro que estamos recebendo não pode ser destinado para fazer a extensão de metrô da Gávea, enquanto na Rocinha estamos com deslizamentos de terra, esgoto a céu aberto e a população mais pobre sofrendo – disse Witzel.
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A conclusão do projeto, que dependeria da escavação de 15 metros no sentido Leblon e de 1.256 na direção de São Conrado, consumiria entre R$ 750 milhões e R$ 1 bilhão . Uma outra solução, que seria concretar e estabilizar a estrutura, custaria cerca de R$ 300 milhões . A decisão de aterrar a estação terá um gasto menor, entre R$ 20 e R$ 40 milhões , mas enterra os cerca de R$ 940 milhões que já haviam sido investidos na obra. O que o governo não informou ainda é qual será o destino do tatuzão , equipamento de escavação fabricado na Alemanha sob medida para as intervenções entre Ipanema e a Gávea. Parada, a máquina custa R$ 3 milhões por mês ao consórcio construtor Rio-Barra.
‘Mera extensão da Linha’, diz especialista
A solução encontrada pelo estado foi criticada por moradores do bairro e especialistas . Para Eva Vider, engenheira de transportes e professora da Escola Politécnica da UFRJ, a conclusão da Estação Gávea é essencial para que o metrô opere como um sistema integrado , conforme o previsto. Ela observou que a Linha 4, hoje, é uma mera extensão da Linha 1. Em 1998, quando o serviço foi licitado pelo estado, a ideia era criar um sistema que pudesse operar mesmo que houvesse uma pane na Linha 1. Do Jardim Oceânico, os trens seguiriam até o Centro ( Carioca), tendo estações intermediárias em diversos pontos, incluindo Morro de São João (Botafogo) e Jockey (Leblon).
-Não faz sentido paralisar o projeto, deveria ser algo prioritário, importante para a mobilidade do Rio. É muito difícil retomar esse tipo de obra – disse Eva.
O projeto do metrô da Gávea
Obras estão paradas desde 2015. Estação faria parte do percurso da Linha 4
O presidente da Associação de Moradores da Gávea, René Hasencláver, também criticou a medida:
– Se não tem dinheiro, o governo deve buscar fontes alternativas com a iniciativa privada.
O engenheiro agrônomo Pedro Freitas, de 66 anos, que se desloca diariamente para o Jardim Botânico, onde trabalha, diz que esse é o triste desfecho de uma novela que se arrasta há vários governos:
– O metrô vem de gambiarra em gambiarra. Aterrar é jogar uma pá de cal nos erros anteriores.
Independentemente da falta de recursos alegada pelo estado, há um impasse jurídico sem previsão de desfecho. Desde janeiro de 2018, o governo está proibido pela Justiça de aplicar recursos na obra. A decisão atende a uma ação do Ministério Público do Rio, que, com base em dados do Tribunal de Contas do Estado (TCE), identificou suspeitas de que a Linha 4 foi superfaturada em mais de R$ 3 bilhões, dentro do esquema de corrupção comandado pelo ex-governador Sérgio Cabral.
Em meio ao impasse, o deputado estadual Carlo Caiado (DEM) defende que o estado negocie com o Ministério Público e o juiz Marcelo Bretas, responsável pelas ações da Lava-Jato no Rio, que parte dos recursos recuperados pela operação seja empregada para finalizar a Estação Gávea. Futuramente, sugere, haveria uma eventual compensação de créditos se as empreiteiras da Linha 4 firmassem acordos de leniência para devolver recursos ao estado. Ele levará essa proposta a Witzel na segunda-feira, junto com um abaixo-assinado, subscrito por 10 mil pessoas, em favor da obra.
Com o aterramento da Estação Gávea, o Rio passará a ter três canteiros do metrô abandonados . Um deles fica 15 metros abaixo da plataforma da Estação Largo da Carioca e faria parte de uma variação da Linha 2 do metrô (que ligaria a Praça Quinze ao Estácio). O outro canteiro fica em Botafogo, de onde partiria uma nova linha entre o Centro e o Morro de São João. Com acesso pela Rua Álvaro Ramos, essa estação chegou a ser parcialmente escavada no fim dos anos 1980, mas as obras pararam em 1995.
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