Os usuários dos trens da SuperVia poderão ficar sem o transporte público em agosto. Alegando perdas mensais de R$ 30 milhões por conta das medidas de isolamento social adotadas como forma de combate ao avanço do coronavírus, a concessionária admite que, se não houver apoio financeiro, não terá caixa suficiente para cumprir todos os seus pagamentos, o que colocará em dificuldades a operação dos trens já a partir do mês que vem.
Em entrevista ao jornal Valor Econômico, Kazuhisa Ota, presidente da Gumi, braço de mobilidade urbana da Mitsui, a principal acionista da SuperVia, reconheceu que a empresa se encontra numa situação-limite, e em dificuldade de fazer pagamentos. Ele disse ainda que o fato já foi comunicado ao governo do Estado do Rio de Janeiro e ao governo federal. As dificuldades da concessionária também têm sido objeto de reuniões frequentes com o BNDES, que detém R$ 700 milhões de créditos no negócio e é acionista com 3,5% do capital.
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– Estamos com com um grande buraco no caixa – disse o executivo ao Valor.
A concessionária informou que antes das medidas de restrição no transporte público, a SuperVia transportava cerca de 600 mil passageiros nos dias úteis. Após a decretação do isolamento social a queda diária no volume de usuários transportados atingiu 74%, tendo depois se estabilizado em 65%, o que significava 400 mil passageiros a menos transportados diariamente nos trens do Rio.
Após a flexibilização das medidas de restrição, ocorridas há pouco mais de um mês, a companhia percebeu um aumento de apenas 5% no número de passageiros diários. A expectativa da SuperVia é de que a crise deve perdurar por um longo tempo, fazendo com que a recuperação do movimento de passageiros seja normalizado somente no segundo semestre de 2021.
A concessionária alega que também perdeu receitas não-tarifárias, uma vez que metade das lojas e quiosques existentes nas estações de trem está fechada e a inadimplência atinge 80%. Como o sistema de trens não conta com subsídios, a manutenção da empresa depende basicamente da venda de bilhetes. A situação se agrava porque os custos com mão de obra e energia são praticamente fixos, independente da queda de movimento de passageiros, informou a SuperVia.
A empresa diz ter contabilizado perda de R$ 102 milhões desde o início da pandemia, numa média aproximada de R$ 30 milhões mensais. Nos primeiros meses, quando a perda de passageiros foi maior, esta média atingiu R$ 40 milhões. A concessionária informou que tem feito um grande esforço de melhoria de caixa, com corte de despesas, para compensar essa perda de receita.
Para evitar demissões e preservar os empregos, a empresa informou que adotou, a partir de maio, a redução de 25% na jornada e nos salários de 2 mil funcionários. Afirmou ainda que, paralelamente vem buscando uma solução financeira por meio de várias negociações junto aos governo do Estado, ao BNDES, e a órgãos federais, a fim de garantir a manutenção da operação dos sistema de trens do Rio de Janeiro, sem que nenhum apoio tenha se concretizado até o momento.
Metrô perdeu 18,6 milhões de embarques desde março Diante da crise, a concessionária Metrô Rio também informou que possui caixa para cobrir seus custos somente até agosto. A empresa estima que pelo menos 60 milhões de pessoas deixaram de circular no modal desde 16 de março, quando se iniciaram as medidas de restrições na cidade. Em média, são menos 18,6 milhões de embarques por mês nas estações e trens da concessionária, uma queda diária superior a 80% do seu público até o início de junho.
Atualmente, mesmo após a autorização de retorno de algumas atividades, a queda continua bastante elevada, em 73%. O prejuízo mensal gira em torno de R$ 35 milhões. No total, o déficit acumulado é de R$ 150 milhões.
– É uma crise sem precedentes. Precisamos fazer uma discussão aberta e transparente sobre como manter um serviço essencial, que depende de aglomeração. Os custos da operação são fixos e, diante dos impactos da pandemia, não teremos como cobri-los sem ajuda emergencial – afirmou o presidente do Metrô Rio, Guilherme Ramalho.
Pior crise de transporte público dos últimos 50 anos Para o secretário estadual de Transportes Delmo Pinho, que considera esta a pior crise de transporte público do Brasil dos últimos 50 anos, a situação da SuperVia e do Metrô Rio são gravíssimas por serem patrimônios públicos muito grandes, que já vinham operando abaixo da capacidade e que refletem como que o sistema de transportes brasileiro é um dos primeiros setores a sentir os impactos de uma crise. Para isso, ele estima que, em geral, as empresas de transporte do Estado – seja trem, metrô, barcas e ônibus intermunicipal e municipal – precisariam de um subsídio estatal de até R$ 150 milhões por mês e por um semestre.
– Esta é uma projeção que fizemos até o final do ano, mas esse dinheiro não pode ser dado para as empresas. Ele precisa ser aportado e rigidamente controlado pelas autoridades públicas. É provável que em janeiro ou fevereiro do ano que vem não se precise mais disso – disse Delmo.
O secretário também informou que está em consulta com a Procuradoria Geral do Estado para discutir estes casos emergenciais no transporte público do Estado, e que estão pleiteando ao governo federal um apoio para que se possa levar essa preocupação a nível nacional:
– Nós temos que montar uma política nacional para o transporte público que seja transparente nas informações sobre o controle dos passageiros, as receitas tarifárias e administração dos consórcios. Este é um setor vital para o giro da economia e que precisa ser completamente reorganizado no país. Com certeza esta é uma oportunidade.
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