Grupos já presentes no país devem dominar disputas

Valor Econômico – Os leilões de infraestrutura em 2022 deverão seguir a mesma tendência dos últimos anos: licitações bem-sucedidas, mas dominadas por operadores já presentes no Brasil – e, portanto, mais tolerantes às incertezas econômicas e políticas que afetam o país hoje. O nível de interesse privado varia muito de acordo com a relação risco-retorno de cada projeto, mas, no geral, a expectativa é positiva, segundo analistas.

O cenário mais incerto é o do setor rodoviário, que deverá ter muitos leilões relevantes em 2022. O temor é que, com a oferta alta, o nível de concorrência caia.

“Há uma confluência enorme de projetos rodoviários, após anos sem muitas oportunidades. Temos as concessões que chegaram ao fim, relicitações de contratos que deram errado, projetos antigos que enfim foram destravados. Além disso, estão saindo pacotes estaduais. Por outro lado, o número de operadores não cresceu com tanta força”, diz Daniel Keller, sócio da Una Partners. Ele também destaca que o ano eleitoral reduz a janela de leilões.

A projeção é que CCR e Ecorodovias sigam disputando projetos robustos, como os lotes de rodovias no Paraná. Já Arteris e Pátria geram mais dúvida. Apesar de serem operadores grandes, não têm entrado nos leilões. Mas, diante da oferta ampla, a perspectiva é que voltem a disputar.

Há também uma grande expectativa em torno de grupos com presença ainda pequena no setor. É o caso da espanhola Sacyr (que opera uma rodovia gaúcha); a GLP, de Cingapura (que administra uma rodovia no Mato Grosso do Sul e a BR-153, com a Ecorodovias); a Conasa (operadora de estradas no Mato Grosso e da BR-163); o grupo Simpar (com uma rodovia no Piauí); além de algumas construtoras de médio porte, que têm formado consórcios.

Já a atração de novos operadores internacionais será mais difícil, pelo cenário instável no país.

“O investidor de infraestrutura está olhando o longuíssimo prazo. Mas há também um momento certo de entrada, que pede um ambiente menos volátil. Hoje o Brasil carece dessa estabilidade. Com isso, talvez o investidor cobre um retorno maior”, afirma Daniel O’Czerny, responsável pelo financiamento de projetos de infraestrutura do Citi. Para ele, porém, ainda há possibilidade de entrantes, em leilões menores.

O cenário de juros é outro entrave, avalia Marcos Ganut, sócio da Alvarez & Marsal. “Ainda há novos investidores interessados, mas com menos apetite. Com a alta dos juros, hoje, os grupos já começam a comparar com outras opções de investimento”, afirma.

O cenário é mais positivo no setor de aeroportos, que em 2022 terá seu leilão mais aguardado: a sétima rodada de concessões, que inclui Congonhas (SP) e Santos Dumont (RJ). “É a última rodada do setor, com as chamadas ‘joias da coroa’. Há uma oportunidade de atrair grupos de fora, porque são projetos muito importantes, com um modelo já aceito pelo mercado, com uma percepção de risco baixo”, afirma Rafael Vanzella, sócio do Machado Meyer.

A expectativa é que haja um recorde de proponentes no leilão, avalia O’Czerny: “Essa rodada está sendo aguardada há muito tempo. Tem fundos investimentos bastante interessados”. Outro ponto relevante é a recuperação do setor aéreo, após o baque da pandemia. “Há um ano, havia muita incerteza, mas hoje há uma demanda crescente”, diz Ganut.

Além de grupos financeiros, é esperada a participação dos grandes operadores estrangeiros, muitos dos quais já estão no país, como Vinci, Fraport, Zurich e Aena. A CCR também deve disputar.

No setor de portos, há diversos leilões de arrendamentos importantes, como os terminais no Porto de Santos e os de granéis líquidos. A grande expectativa, porém, é pelas desestatizações de companhias docas, afirma Nilton Mattos, sócio do Mattos Filho.

O processo mais avançado é o da Codesa, no Espírito Santo. “Não acredito que novos investidores de fora devam entrar com força. Mas tudo depende de como virá o edital, se as incertezas levantadas ao longo do processo serão resolvidas”, diz ele.

Já a privatização da companhia docas do Porto de Santos é dada como improvável ou inviável entre analistas e executivos do setor, que falaram sob anonimato. A avaliação é que há muitas pendências técnicas e resistências políticas para um prazo bastante curto, em pleno ano eleitoral.

Fonte: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/12/16/grupos-ja-presentes-no-pais-devem-dominar-disputas.ghtml

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*