Valor Econômico – Beneficiada por preços históricos da celulose de eucalipto e boa performance da fábrica de Três Lagoas (MS), a Eldorado registrou em 2022 o melhor conjunto de resultados financeiros e operacionais em seus dez anos de operação. Com recorde em diferentes linhas do balanço, a produtora de celulose que tem como acionistas a J&F Investimentos e a Paper Excellence (PE) teve lucro líquido anual de R$ 3,53 bilhões, quatro vezes mais que o ganho obtido em 2021.
“Foi um ano excepcional, com recorde de produção em um momento muito favorável no mercado global de celulose”, disse ao Valor o diretor financeiro e de relações com investidores da companhia, Fernando Storchi. No ano passado, a receita líquida cresceu 24%, para R$ 7,54 bilhões, a maior da história, com produção recorde de 1,832 milhão de toneladas de celulose de eucalipto, 22% acima da capacidade original da unidade fabril, de 1,5 milhão de toneladas.
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As vendas totalizaram 1,759 milhão de toneladas em 2022, quase estáveis em relação ao ano anterior (1,755 milhão de toneladas), sustentando níveis normais de estoques. “Reduzimos um pouco o ritmo de vendas no quarto trimestre para montar estoques para a parada da fábrica, que aconteceu no fim de janeiro, e manter o atendimento aos clientes”, explicou. “Os volumes devem melhorar no primeiro trimestre”, acrescentou.
O resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado, por sua vez, chegou a históricos R$ 4,56 bilhões no ano, 30,4% acima do registrado em 2021. No quarto trimestre, o preço médio da celulose comercializada pela Eldorado foi de US$ 880 por tonelada, 38% maior que os US$ 637 por tonelada do mesmo intervalo de 2021. Já custo caixa de produção médio ficou em R$ 873 (US$ 169) por tonelada no ano. De acordo com Storchi, o custo caixa deve se manter competitivo em 2023 e já há sinais de arrefecimento na pressão de custos, sobretudo com determinados químicos e frete.
Em dezembro, a dívida líquida da Eldorado estava em R$ 2,98 bilhões, de R$ 5,2 bilhões no fim de 2021. Com a melhora do Ebitda e a redução do endividamento líquido, a alavancagem financeira da recuou a 0,7 vez em reais, frente a 1,5 vez um ano antes.
Segundo o executivo os investimentos em 2022 chegaram a R$ 1,095 bilhão, dos quais R$ 260 milhões nas obras de um novo terminal portuário em Santos (SP). O projeto envolve desembolso total de R$ 500 milhões e entrará em operação em meados do ano. Com isso, os investimentos em 2023 devem retornar ao nível de R$ 800 milhões. “O porto de Santos foi o foco em 2022 e trará competitividade na operação logística”, disse.
A capacidade de refinanciamento e uma mudança da pontuação relativa à estrutura de governança levaram a Fitch a elevar os ratings da Eldorado em moeda estrangeira e local de “BB-“ para “BB”, e os ratings nacional de longo prazo e da quarta emissão de debêntures de “AA-(bra)” a “AA+(bra), com perspectiva estável.
A J&F, da família Batista, dona da JBS, e a PE, do empresário indonésio Jackson Wijaya, travam uma disputa feroz em torno do controle da Eldorado desde setembro de 2018. Em 2021, a PE venceu a arbitragem aberta contra a sócia, que pede a anulação do procedimento na Justiça.
Para a agência de classificação de risco, isoladamente, essa disputa não limita mais a nota de crédito da produtora de celulose, uma vez que esse processo vai se arrastar por mais tempo que o previsto originalmente. A Fitch aponta ainda que, com a significativa redução do nível de endividamento, a companhia não depende do mercado internacional de dívida. “A Eldorado têm sido capaz de emitir dívida no mercado local para refinanciar suas obrigações, e um conselho de administração formado com a participação de ambas as partes interessadas está tomando as decisões estratégicas”, informou.
“A fábrica da Eldorado possui capacidade de produção anual de 1,7 milhão de toneladas de celulose, com um custo-caixa de produção que a posicionou, de forma consistente, no menor quartil da curva de custos”, acrescentou.
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